quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Terceira Fase Modernista

     RIGOR DA FORMA: neoparnasianismo (perfeição verbal)

·        OBJETIVOS POÉTICOS DIFERENTES: estética formalista, poesia participante, tensões sociais.

·        POEMA-PIADA: vulgaridade, exagero.

·        PARTICIPAÇÃO SOCIAL

PRINCIPAIS AUTORES


1-JOÃO CABRAL DE MELO NETO: “poeta de simetrias” / objetividade / tendência surrealista / temática: a) Nordeste e seu povo; b) Espanha e suas paisagens.

2- FERREIRA GULLAR: poesia participante (problemas sociais)


CONCRETISMO (VANGUARDA POÉTICA)


·        AUTORES INFLUENCIADORES: Oswald de Andrade (poemas radicais) e João Cabral de Melo Neto (linguagem econômica e objetiva)


CARACTERÍSTICAS

·        ROMPIMENTO COM O DISCURSO TRADICIONAL

·        DESINTEGRAÇÃO COM O VERSO: verbal (aspecto sintático e semântico) / oral (aspecto sonoro) / visual (aspecto gráfico)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Vinícius de Moraes

Marcus Vinicius de Moraes nasceu em 1913 no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e violinista amador, e Lídia Cruz, pianista amadora. Vinícius é o segundo de quatro filhos, Lygia (1911), Laetitia (1916) e Helius (1918). Mudou-se com a família para o bairro de Botafogo em 1916, onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto, onde já demonstrava interesse em escrever poesias. Em 1922, a sua mãe adoeceu e a família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador, ele e sua irmã Lygia permanecendo com o avô, em Botafogo, para terminar o curso primário.
Vinicius de Moraes ingressou em 1924 no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas, onde passou a cantar no coral e começou a montar pequenas peças de teatro. Três anos mais tarde, tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas de amigos. Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje integrada à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.
Três anos depois, obteve o emprego de censor cinematográfico junto ao Ministério da Educação e Saúde. Dois anos mais tarde, Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no jornal "A Manhã". Tornou-se também colaborador da revista "Clima" e empregou-se no Instituto dos Bancários.
No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso para o Ministério das Relações Exteriores (MRE). Em 1943, concorreu novamente e desta vez foi aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles. Com a morte do pai, em 1950, Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos 1950, Vinicius atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda.
No final de 1968 foi afastado da carreira diplomática tendo sido aposentado compulsoriamente pelo Ato Institucional Número Cinco
O poeta estava em Portugal, a dar uma série de espectáculos, alguns com Chico Buarque e Nara Leão, quando o regime militar emitiu o AI-5. O motivo apontado para o afastamento foi o seu comportamento boêmio que o impedia de cumprir as suas funções. Vinícius foi anistiado (post-mortem)pela Justiça em 1998. Em 2006, foi oficialmente reintegrado na carreira diplomática. A Câmara dos Deputados brasileira aprovou em Fevereiro de 2010 a promoção póstuma do poeta ao cargo de "ministro de primeira classe" do Ministério dos Negócios Estrangeiros - o equivalente a embaixador, que é o cargo mais alto da carreira diplomática. A lei foi publicada no Diário Oficial do dia 22.06.2010 e recebeu o número 12.265.
Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", em 25 de setembro de 1956. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria. Foram firmadas parcerias com compositores como Baden Powell, Carlos Lyra e Francis Hime.
Nos anos 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.
Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia 9 de julho, Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreu pela manhã.

Cecília Meireles

Órfã de pai e de mãe, Cecília foi criada por sua avó portuguesa, D. Jacinta Garcia Benevides. Aos nove anos, ela começou a escrever poesia. Frequentou a Escola Normal no Rio de Janeiro, entre os anos de 1913 e 1916. Como professora, estudou línguas, literatura, música, folclore e teoria educacional.
Em 1919, aos dezoito anos de idade, Cecília Meireles publicou seu primeiro livro de poesias, Espectro, um conjunto de sonetos simbolistas. Embora vivesse sob a influência do Modernismo, apresentava ainda, em sua obra, heranças do Simbolismo e técnicas do Classicismo, Gongorismo, Romantismo, Parnasianismo, Realismo e Surrealismo, razão pela qual a sua poesia é considerada atemporal.
No ano de 1922, ela se casou com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Seu marido, que sofria de depressão aguda, suicidou-se em 1935. Voltou a se casar, no ano de 1940, quando se uniu ao professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo, falecido em 1972. Dentre essas três, a mais conhecida é Maria Fernanda que tornou-se uma atriz de sucesso.
Teve ainda importante atuação como jornalista, com publicações diárias sobre problemas na educação, área à qual se manteve ligada, tendo fundado, em 1934, a primeira biblioteca infantil do Brasil. Observa-se ainda seu amplo reconhecimento na poesia infantil com textos como Leilão de Jardim, O Cavalinho Branco, Colar de Carolina, O mosquito escreve, Sonhos da menina, O menino azul e A pombinha da mata, entre outros. Com eles traz para a poesia infantil a musicalidade característica de sua poesia, explorando versos regulares, a combinação de diferentes metros, o verso livre, a aliteração, a assonância e a rima. Os poemas infantis não ficam restritos à leitura infantil, permitindo diferentes níveis de leitura.
Em 1923, publicou Nunca Mais… e Poema dos Poemas, e, em 1925, Baladas Para El-Rei. Após longo período, em 1939, publicou Viagem, livro com o qual ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.
Nos Açores, de onde eram oriundos os seus pais, o nome de Cecília Meireles foi dado à escola básica da freguesia de Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada.
Obras:

  • Espectros, 1919




  • Criança, meu amor, 1923




  • Nunca mais…, 1923




  • Poema dos Poemas, 1923




  • Baladas para El-Rei, 1925




  • Saudação à menina de Portugal, 1930




  • Batuque, samba e Macumba, 1933




  • O Espírito Vitorioso, 1935




  • A Festa das Letras, 1937




  • Viagem, 1939




  • Vaga Música, 1942




  • Poetas Novos de Portugal, 1944




  • Mar Absoluto, 1945




  • Rute e Alberto, 1945




  • Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948




  • Retrato Natural, 1949




  • Problemas de Literatura Infantil, 1950




  • Amor em Leonoreta, 1952




  • Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952




  • Romanceiro da Inconfidência, 1953




  • Poemas Escritos na Índia, 1953




  • Batuque, 1953




  • Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955




  • Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955




  • Panorama Folclórico de Açores, 1955




  • Canções, 1956




  • Giroflê, Giroflá, 1956




  • Romance de Santa Cecília, 1957




  • A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957




  • A Rosa, 1957




  • Obra Poética,1958




  • Metal Rosicler, 1960




  • Poemas de Israel, 1963




  • Antologia Poética, 1963




  • Solombra, 1963




  • Ou Isto ou Aquilo, 1964




  • Escolha o Seu Sonho, 1964




  • Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965




  • O Menino Atrasado, 1966




  • Poésie (versão francesa), 1967




  • Antologia Poética, 1968




  • Poemas Italianos, 1968




  • Poesias (Ou isto ou aquilo& inéditos), 1969




  • Flor de Poemas, 1972




  • Poesias Completas, 1973




  • Elegias, 1974




  • Flores e Canções, 1979




  • Poesia Completa, 1994




  • Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998




  • Canção da Tarde no Campo, 2001




  • Episódio Humano, 2007




  • Obra principal de Cecília Meireles: Olhinhos de Gato. Olhinhos de Gato é um livro que foi baseado na vida de Cecília, contando sua infância depois que perdeu sua mãe Matilde Benevides Meireles e como foi criada por sua avó D. Jacinta Garcia Benevides (Boquinha de Doce, no livro)

  • Poema de Sete Faces (Carlos Drummond de Andrade)

    Poema de sete faces


    Quando nasci, um anjo torto
    desses que vivem na sombra
    disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
     

    As casas espiam os homens
    que correm atrás de mulheres.
    A tarde talvez fosse azul,
    não houvesse tantos desejos.
     

    O bonde passa cheio de pernas:
    pernas brancas pretas amarelas.
    Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
    Porém meus olhos
    não perguntam nada.
     

    O homem atrás do bigode
    é sério, simples e forte.
    Quase não conversa.
    Tem poucos , raros amigos
    o homem atrás dos óculos e do bigode.
     

    Meu Deus, por que me abandonaste
    se sabias que eu não era Deus
    se sabias que eu era fraco.
     

    Mundo mundo vasto mundo
    se eu me chamasse Raimundo,
    seria uma rima, não seria uma solução.
    Mundo mundo vasto mundo,
    mais vasto é meu coração.
     

    Eu não devia te dizer
    mas essa lua
    mas esse conhaque
    botam a gente comovido como o diabo
    .

    Carlos Drummond de Andrade

    Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
    Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no
    Jornal do Brasil.O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
    Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
    Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.
    Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
    Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

    O Segundo Tempo Modernista

     o período de maturação e de regionalismo, revelando-se, após as conquistas da geração de 1922, uma fase muito rica na produção de prosa e poesia. Reflete o momento histórico conturbado, reinante não só na Europa, mas também no mundo.
    Poesia - Nesta fase construtiva predomina a prosa, enquanto a poesia se apresenta de forma mais amadurecida. Não precisa mais ser irreverente e experimentalista, nem chocar o público; agora familiarizado com a nova maneira de expressão. As influências de
    Mário de Andrade e Oswald de Andrade estão presentes na produção poética pós Semana de Arte Moderna. Os novos poetas dão continuidade à pesquisa estética anterior, mantendo o verso livre e a poesia sintética.
    A nova técnica está marcada pelo questionamento mais vigoroso da realidade, acompanhada da indagação do poeta sobre seu fazer literário e sua interpretação sobre o estar-no-mundo. Conseqüentemente, surge uma poesia mais madura e politizada, comprometida com as profundas transformações sociais enfrentadas pelo país. Ampliando os temas da fase anterior, volta-se para o espiritualismo e o intimismo, presentes em certas obras de Murilo Mendes, Cecília Meireles, Jorge de Lima e Vinícius de Moraes.
    A Prosa - A prosa reflete o mesmo momento histórico da poesia, cobrindo-se igualmente das preocupações dos poetas da década de 30. São autores mais representativos:
    José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico Veríssimo.
    Nessa fase, a prosa se reveste de caráter mais maduro e construtivo, refletindo e aproveitando as conquistas da geração de 1922. A linguagem atinge certo equilíbrio e adota uma postura mais documental ao expor a realidade brasileira e focalizar o aspecto social. Essa tendência é aplicada nos romances urbanos, voltados à exposição da vida nas grandes cidades, revelando as desigualdades sociais, observadas na vida urbana brasileira, com destaque para algumas obras de Érico Veríssimo.
    Os escritores focalizam, ainda, a realidade regional do país, originando a prosa regionalista que destaca a seca e os flagelos dela decorrentes. Os romancistas comprometidos com essa temática são: Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Ao lado dessa tendência, encontra-se a prosa intimista ou de sondagem psicológica, elaborada a partir do surgimento da teoria psicanalítica freudiana. Seus representantes são: Dionélio Machado, Lúcio Cardoso e Graciliano Ramos. Portanto, a denúncia social e a relação do "eu" com o mundo e, em especial, com o povo brasileiro são o ponto de tensão dos romances do período.
    A preocupação mais marcante da prosa é o homem do Nordeste, incluindo sua vida precária e as condições adversas impostas pela geografia do lugar, pela submissão dos trabalhadores aos proprietários de terras, advinda de sua grave falta de instrução. O encontro com o povo brasileiro propicia, pois, o nascimento do regionalismo, reforçado pelos temas dedicados à decadência dos engenhos; às regiões de cana-de-açúcar; às terras do cacau no sul da Bahia; à vida agreste; às constantes secas, aprofundando as desigualdades sociais; ao movimento migratório; à mão-de-obra barata, à miséria e à fome.
    Em 1945, encerra-se o período dinâmico do Modernismo, abrindo espaço para a fase de reflexão, devotada aos questionamentos sobre a linguagem, ao retorno a certos modelos estilísticos tradicionais, sobretudo, no início dos anos 50, visando inovações.
    Some-se a isso que, o término da
    Segunda Guerra Mundial (1945) empurra o país para a era industrial e passa a contar com um proletariado de grande peso representativo, ávido de participar efetivamente da vida política. Além disso, o país desponta como uma potência moderna, facilitando o aparecimento da nova estética, revelando, segundo Antônio Cândido, "no seu ritmo histórico, uma adesão profunda aos problemas da nossa terra e da nossa história contemporânea".

    Enquanto a Chuva Cai (Manuel Bandeira)

    Enquanto a chuva cai


    A chuva cai. O ar fica mole . . .
    Indistinto . . . ambarino . . . gris . . .
    E no monótono matiz
    Da névoa enovelada bole
    A folhagem como o bailar.


    Torvelinhai, torrentes do ar!


    Cantai, ó bátega chorosa,
    As velhas árias funerais.
    Minh'alma sofre e sonha e goza
    À cantilena dos beirais.


    Meu coração está sedento
    De tão ardido pelo pranto.
    Dai um brando acompanhamento
    À canção do meu desencanto.


    Volúpia dos abandonados . . .
    Dos sós . . . — ouvir a água escorrer,
    Lavando o tédio dos telhados
    Que se sentem envelhecer . . .


    Ó caro ruído embalador,
    Terno como a canção das amas!
    Canta as baladas que mais amas,
    Para embalar a minha dor!


    A chuva cai. A chuva aumenta.
    Cai, benfazeja, a bom cair!
    Contenta as árvores! Contenta
    As sementes que vão abrir!


    Eu te bendigo, água que inundas!
    Ó água amiga das raízes,
    Que na mudez das terras fundas
    Às vezes são tão infelizes!


    E eu te amo! Quer quando fustigas
    Ao sopro mau dos vendavais
    As grandes árvores antigas,
    Quer quando mansamente cais.


    É que na tua voz selvagem,
    Voz de cortante, álgida mágoa,
    Aprendi na cidade a ouvir
    Como um eco que vem na aragem
    A estrugir, rugir e mugir,
    O lamento das quedas-d'água!