quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Terceira Fase Modernista

     RIGOR DA FORMA: neoparnasianismo (perfeição verbal)

·        OBJETIVOS POÉTICOS DIFERENTES: estética formalista, poesia participante, tensões sociais.

·        POEMA-PIADA: vulgaridade, exagero.

·        PARTICIPAÇÃO SOCIAL

PRINCIPAIS AUTORES


1-JOÃO CABRAL DE MELO NETO: “poeta de simetrias” / objetividade / tendência surrealista / temática: a) Nordeste e seu povo; b) Espanha e suas paisagens.

2- FERREIRA GULLAR: poesia participante (problemas sociais)


CONCRETISMO (VANGUARDA POÉTICA)


·        AUTORES INFLUENCIADORES: Oswald de Andrade (poemas radicais) e João Cabral de Melo Neto (linguagem econômica e objetiva)


CARACTERÍSTICAS

·        ROMPIMENTO COM O DISCURSO TRADICIONAL

·        DESINTEGRAÇÃO COM O VERSO: verbal (aspecto sintático e semântico) / oral (aspecto sonoro) / visual (aspecto gráfico)

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Vinícius de Moraes

Marcus Vinicius de Moraes nasceu em 1913 no bairro da Gávea, no Rio de Janeiro, filho de Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, funcionário da Prefeitura, poeta e violinista amador, e Lídia Cruz, pianista amadora. Vinícius é o segundo de quatro filhos, Lygia (1911), Laetitia (1916) e Helius (1918). Mudou-se com a família para o bairro de Botafogo em 1916, onde iniciou os seus estudos na Escola Primária Afrânio Peixoto, onde já demonstrava interesse em escrever poesias. Em 1922, a sua mãe adoeceu e a família de Vinicius mudou-se para a Ilha do Governador, ele e sua irmã Lygia permanecendo com o avô, em Botafogo, para terminar o curso primário.
Vinicius de Moraes ingressou em 1924 no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas, onde passou a cantar no coral e começou a montar pequenas peças de teatro. Três anos mais tarde, tornou-se amigo dos irmãos Haroldo e Paulo Tapajós, com quem começou a fazer suas primeiras composições e a se apresentar em festas de amigos. Em 1929, concluiu o ginásio e no ano seguinte, ingressou na Faculdade de Direito do Catete, hoje integrada à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Na chamada "Faculdade do Catete", conheceu e tornou-se amigo do romancista Otavio Faria, que o incentivou na vocação literária. Vinicius de Moraes graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933.
Três anos depois, obteve o emprego de censor cinematográfico junto ao Ministério da Educação e Saúde. Dois anos mais tarde, Vinicius de Moraes ganhou uma bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford. Em 1941, retornou ao Brasil empregando-se como crítico de cinema no jornal "A Manhã". Tornou-se também colaborador da revista "Clima" e empregou-se no Instituto dos Bancários.
No ano seguinte, foi reprovado em seu primeiro concurso para o Ministério das Relações Exteriores (MRE). Em 1943, concorreu novamente e desta vez foi aprovado. Em 1946, assumiu o primeiro posto diplomático como vice-cônsul em Los Angeles. Com a morte do pai, em 1950, Vinicius de Moraes retornou ao Brasil. Nos anos 1950, Vinicius atuou no campo diplomático em Paris e em Roma, onde costumava realizar animados encontros na casa do escritor Sérgio Buarque de Holanda.
No final de 1968 foi afastado da carreira diplomática tendo sido aposentado compulsoriamente pelo Ato Institucional Número Cinco
O poeta estava em Portugal, a dar uma série de espectáculos, alguns com Chico Buarque e Nara Leão, quando o regime militar emitiu o AI-5. O motivo apontado para o afastamento foi o seu comportamento boêmio que o impedia de cumprir as suas funções. Vinícius foi anistiado (post-mortem)pela Justiça em 1998. Em 2006, foi oficialmente reintegrado na carreira diplomática. A Câmara dos Deputados brasileira aprovou em Fevereiro de 2010 a promoção póstuma do poeta ao cargo de "ministro de primeira classe" do Ministério dos Negócios Estrangeiros - o equivalente a embaixador, que é o cargo mais alto da carreira diplomática. A lei foi publicada no Diário Oficial do dia 22.06.2010 e recebeu o número 12.265.
Vinicius começou a se tornar prestigiado com sua peça de teatro "Orfeu da Conceição", em 25 de setembro de 1956. Além da diplomacia, do teatro e dos livros, sua carreira musical começou a deslanchar em meados da década de 1950 - época em que conheceu Tom Jobim (um de seus grandes parceiros) -, quando diversas de suas composições foram gravadas por inúmeros artistas. Na década seguinte, Vinicius de Moraes viveu um período áureo na MPB, no qual foram gravadas cerca de 60 composições de sua autoria. Foram firmadas parcerias com compositores como Baden Powell, Carlos Lyra e Francis Hime.
Nos anos 1970, já consagrado e com um novo parceiro, o violonista Toquinho, Vinicius seguiu lançando álbuns e livros de grande sucesso.
Na noite de 8 de julho de 1980, acertando detalhes com Toquinho sobre as canções do álbum "Arca de Noé", Vinicius alegou cansaço e que precisava tomar um banho. Na madrugada do dia 9 de julho, Vinicius foi acordado pela empregada, que o encontrara na banheira de casa, com dificuldades para respirar. Toquinho, que estava dormindo, acordou e tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta), mas não houve tempo e Vinicius de Moraes morreu pela manhã.

Cecília Meireles

Órfã de pai e de mãe, Cecília foi criada por sua avó portuguesa, D. Jacinta Garcia Benevides. Aos nove anos, ela começou a escrever poesia. Frequentou a Escola Normal no Rio de Janeiro, entre os anos de 1913 e 1916. Como professora, estudou línguas, literatura, música, folclore e teoria educacional.
Em 1919, aos dezoito anos de idade, Cecília Meireles publicou seu primeiro livro de poesias, Espectro, um conjunto de sonetos simbolistas. Embora vivesse sob a influência do Modernismo, apresentava ainda, em sua obra, heranças do Simbolismo e técnicas do Classicismo, Gongorismo, Romantismo, Parnasianismo, Realismo e Surrealismo, razão pela qual a sua poesia é considerada atemporal.
No ano de 1922, ela se casou com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Seu marido, que sofria de depressão aguda, suicidou-se em 1935. Voltou a se casar, no ano de 1940, quando se uniu ao professor e engenheiro agrônomo Heitor Vinícius da Silveira Grilo, falecido em 1972. Dentre essas três, a mais conhecida é Maria Fernanda que tornou-se uma atriz de sucesso.
Teve ainda importante atuação como jornalista, com publicações diárias sobre problemas na educação, área à qual se manteve ligada, tendo fundado, em 1934, a primeira biblioteca infantil do Brasil. Observa-se ainda seu amplo reconhecimento na poesia infantil com textos como Leilão de Jardim, O Cavalinho Branco, Colar de Carolina, O mosquito escreve, Sonhos da menina, O menino azul e A pombinha da mata, entre outros. Com eles traz para a poesia infantil a musicalidade característica de sua poesia, explorando versos regulares, a combinação de diferentes metros, o verso livre, a aliteração, a assonância e a rima. Os poemas infantis não ficam restritos à leitura infantil, permitindo diferentes níveis de leitura.
Em 1923, publicou Nunca Mais… e Poema dos Poemas, e, em 1925, Baladas Para El-Rei. Após longo período, em 1939, publicou Viagem, livro com o qual ganhou o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.
Nos Açores, de onde eram oriundos os seus pais, o nome de Cecília Meireles foi dado à escola básica da freguesia de Fajã de Cima, concelho de Ponta Delgada.
Obras:

  • Espectros, 1919




  • Criança, meu amor, 1923




  • Nunca mais…, 1923




  • Poema dos Poemas, 1923




  • Baladas para El-Rei, 1925




  • Saudação à menina de Portugal, 1930




  • Batuque, samba e Macumba, 1933




  • O Espírito Vitorioso, 1935




  • A Festa das Letras, 1937




  • Viagem, 1939




  • Vaga Música, 1942




  • Poetas Novos de Portugal, 1944




  • Mar Absoluto, 1945




  • Rute e Alberto, 1945




  • Rui — Pequena História de uma Grande Vida, 1948




  • Retrato Natural, 1949




  • Problemas de Literatura Infantil, 1950




  • Amor em Leonoreta, 1952




  • Doze Noturnos de Holanda e o Aeronauta, 1952




  • Romanceiro da Inconfidência, 1953




  • Poemas Escritos na Índia, 1953




  • Batuque, 1953




  • Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955




  • Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955




  • Panorama Folclórico de Açores, 1955




  • Canções, 1956




  • Giroflê, Giroflá, 1956




  • Romance de Santa Cecília, 1957




  • A Bíblia na Literatura Brasileira, 1957




  • A Rosa, 1957




  • Obra Poética,1958




  • Metal Rosicler, 1960




  • Poemas de Israel, 1963




  • Antologia Poética, 1963




  • Solombra, 1963




  • Ou Isto ou Aquilo, 1964




  • Escolha o Seu Sonho, 1964




  • Crônica Trovada da Cidade de San Sebastian do Rio de Janeiro, 1965




  • O Menino Atrasado, 1966




  • Poésie (versão francesa), 1967




  • Antologia Poética, 1968




  • Poemas Italianos, 1968




  • Poesias (Ou isto ou aquilo& inéditos), 1969




  • Flor de Poemas, 1972




  • Poesias Completas, 1973




  • Elegias, 1974




  • Flores e Canções, 1979




  • Poesia Completa, 1994




  • Obra em Prosa - 6 Volumes - Rio de Janeiro, 1998




  • Canção da Tarde no Campo, 2001




  • Episódio Humano, 2007




  • Obra principal de Cecília Meireles: Olhinhos de Gato. Olhinhos de Gato é um livro que foi baseado na vida de Cecília, contando sua infância depois que perdeu sua mãe Matilde Benevides Meireles e como foi criada por sua avó D. Jacinta Garcia Benevides (Boquinha de Doce, no livro)

  • Poema de Sete Faces (Carlos Drummond de Andrade)

    Poema de sete faces


    Quando nasci, um anjo torto
    desses que vivem na sombra
    disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
     

    As casas espiam os homens
    que correm atrás de mulheres.
    A tarde talvez fosse azul,
    não houvesse tantos desejos.
     

    O bonde passa cheio de pernas:
    pernas brancas pretas amarelas.
    Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
    Porém meus olhos
    não perguntam nada.
     

    O homem atrás do bigode
    é sério, simples e forte.
    Quase não conversa.
    Tem poucos , raros amigos
    o homem atrás dos óculos e do bigode.
     

    Meu Deus, por que me abandonaste
    se sabias que eu não era Deus
    se sabias que eu era fraco.
     

    Mundo mundo vasto mundo
    se eu me chamasse Raimundo,
    seria uma rima, não seria uma solução.
    Mundo mundo vasto mundo,
    mais vasto é meu coração.
     

    Eu não devia te dizer
    mas essa lua
    mas esse conhaque
    botam a gente comovido como o diabo
    .

    Carlos Drummond de Andrade

    Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
    Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no
    Jornal do Brasil.O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
    Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
    Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.
    Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
    Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

    O Segundo Tempo Modernista

     o período de maturação e de regionalismo, revelando-se, após as conquistas da geração de 1922, uma fase muito rica na produção de prosa e poesia. Reflete o momento histórico conturbado, reinante não só na Europa, mas também no mundo.
    Poesia - Nesta fase construtiva predomina a prosa, enquanto a poesia se apresenta de forma mais amadurecida. Não precisa mais ser irreverente e experimentalista, nem chocar o público; agora familiarizado com a nova maneira de expressão. As influências de
    Mário de Andrade e Oswald de Andrade estão presentes na produção poética pós Semana de Arte Moderna. Os novos poetas dão continuidade à pesquisa estética anterior, mantendo o verso livre e a poesia sintética.
    A nova técnica está marcada pelo questionamento mais vigoroso da realidade, acompanhada da indagação do poeta sobre seu fazer literário e sua interpretação sobre o estar-no-mundo. Conseqüentemente, surge uma poesia mais madura e politizada, comprometida com as profundas transformações sociais enfrentadas pelo país. Ampliando os temas da fase anterior, volta-se para o espiritualismo e o intimismo, presentes em certas obras de Murilo Mendes, Cecília Meireles, Jorge de Lima e Vinícius de Moraes.
    A Prosa - A prosa reflete o mesmo momento histórico da poesia, cobrindo-se igualmente das preocupações dos poetas da década de 30. São autores mais representativos:
    José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Érico Veríssimo.
    Nessa fase, a prosa se reveste de caráter mais maduro e construtivo, refletindo e aproveitando as conquistas da geração de 1922. A linguagem atinge certo equilíbrio e adota uma postura mais documental ao expor a realidade brasileira e focalizar o aspecto social. Essa tendência é aplicada nos romances urbanos, voltados à exposição da vida nas grandes cidades, revelando as desigualdades sociais, observadas na vida urbana brasileira, com destaque para algumas obras de Érico Veríssimo.
    Os escritores focalizam, ainda, a realidade regional do país, originando a prosa regionalista que destaca a seca e os flagelos dela decorrentes. Os romancistas comprometidos com essa temática são: Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado e Graciliano Ramos. Ao lado dessa tendência, encontra-se a prosa intimista ou de sondagem psicológica, elaborada a partir do surgimento da teoria psicanalítica freudiana. Seus representantes são: Dionélio Machado, Lúcio Cardoso e Graciliano Ramos. Portanto, a denúncia social e a relação do "eu" com o mundo e, em especial, com o povo brasileiro são o ponto de tensão dos romances do período.
    A preocupação mais marcante da prosa é o homem do Nordeste, incluindo sua vida precária e as condições adversas impostas pela geografia do lugar, pela submissão dos trabalhadores aos proprietários de terras, advinda de sua grave falta de instrução. O encontro com o povo brasileiro propicia, pois, o nascimento do regionalismo, reforçado pelos temas dedicados à decadência dos engenhos; às regiões de cana-de-açúcar; às terras do cacau no sul da Bahia; à vida agreste; às constantes secas, aprofundando as desigualdades sociais; ao movimento migratório; à mão-de-obra barata, à miséria e à fome.
    Em 1945, encerra-se o período dinâmico do Modernismo, abrindo espaço para a fase de reflexão, devotada aos questionamentos sobre a linguagem, ao retorno a certos modelos estilísticos tradicionais, sobretudo, no início dos anos 50, visando inovações.
    Some-se a isso que, o término da
    Segunda Guerra Mundial (1945) empurra o país para a era industrial e passa a contar com um proletariado de grande peso representativo, ávido de participar efetivamente da vida política. Além disso, o país desponta como uma potência moderna, facilitando o aparecimento da nova estética, revelando, segundo Antônio Cândido, "no seu ritmo histórico, uma adesão profunda aos problemas da nossa terra e da nossa história contemporânea".

    Enquanto a Chuva Cai (Manuel Bandeira)

    Enquanto a chuva cai


    A chuva cai. O ar fica mole . . .
    Indistinto . . . ambarino . . . gris . . .
    E no monótono matiz
    Da névoa enovelada bole
    A folhagem como o bailar.


    Torvelinhai, torrentes do ar!


    Cantai, ó bátega chorosa,
    As velhas árias funerais.
    Minh'alma sofre e sonha e goza
    À cantilena dos beirais.


    Meu coração está sedento
    De tão ardido pelo pranto.
    Dai um brando acompanhamento
    À canção do meu desencanto.


    Volúpia dos abandonados . . .
    Dos sós . . . — ouvir a água escorrer,
    Lavando o tédio dos telhados
    Que se sentem envelhecer . . .


    Ó caro ruído embalador,
    Terno como a canção das amas!
    Canta as baladas que mais amas,
    Para embalar a minha dor!


    A chuva cai. A chuva aumenta.
    Cai, benfazeja, a bom cair!
    Contenta as árvores! Contenta
    As sementes que vão abrir!


    Eu te bendigo, água que inundas!
    Ó água amiga das raízes,
    Que na mudez das terras fundas
    Às vezes são tão infelizes!


    E eu te amo! Quer quando fustigas
    Ao sopro mau dos vendavais
    As grandes árvores antigas,
    Quer quando mansamente cais.


    É que na tua voz selvagem,
    Voz de cortante, álgida mágoa,
    Aprendi na cidade a ouvir
    Como um eco que vem na aragem
    A estrugir, rugir e mugir,
    O lamento das quedas-d'água!

    Manuel Bandeira

    Filho do engenheiro Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e de sua esposa Francelina Ribeiro, era neto paterno de Antônio Herculano de Sousa Bandeira, advogado, professor da Faculdade de Direito do Recife e deputado geral na 12ª legislatura. Tendo dois tios reconhecidamente importantes, sendo um, João Carneiro de Sousa Bandeira, que foi advogado, professor de Direito e membro da Academia Brasileira de Letras e o outro, Antônio Herculano de Sousa Bandeira Filho, que era o irmão mais velho do engenheiro Sousa Bandeira e foi advogado, procurador da coroa, autor de expressiva obra jurídica e foi também Presidente das Províncias da Paraíba e de Mato Grosso.
    Seu avô materno era Antônio José da Costa Ribeiro, advogado e político, deputado geral na 17ª legislatura. Costa Ribeiro era o avô citado em Evocação do Recife. Sua casa na rua da União é referida no poema como "a casa de meu avô". No Rio de Janeiro, para onde viajou com a família, em função da profissão do pai, engenheiro civil do Ministério da Viação, estudou no Colégio Pedro II (Ginásio Nacional, como o chamaram os primeiros republicanos) foi aluno de Silva Ramos, de José Veríssimo e de João Ribeiro, e teve como condiscípulos Álvaro Ferdinando Sousa da Silveira, Antenor Nascentes, Castro Menezes, Lopes da Costa, Artur Moses.
    Em 1904 terminou o curso de Humanidades e foi para São Paulo, onde iniciou o curso de arquitetura na Escola Politécnica de São Paulo, que interrompeu por causa da tuberculose. Para se tratar buscou repouso em Campos do Jordão, Campanha e outras localidades de clima mais ameno. Com a ajuda do pai que reuniu todas as economias da família foi para a Suíça, onde esteve no Sanatório de Clavadel.
    Manuel Bandeira faleceu no dia 13 de outubro de 1968, com hemorragia gástrica, aos 82 anos de idade, no Rio de Janeiro, e foi sepultado no mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro.
    Poesia de Bandeira
    Ele foi um dos poetas nacionais mais admirados, inspirando, até hoje, desde novos escritores a compositores. Aliás, o "ritmo bandeiriano" merece estudos aprofundados de ensaístas. Por vezes inspira escritores não só em razão de sua temática, mas também devido ao estilo sóbrio de escrever.
    Manuel Bandeira possui um estilo simples e direto, embora não compartilhe da dureza de poetas como João Cabral de Melo Neto, também pernambucano. Aliás, numa análise entre as obras de Bandeira e João Cabral, vê-se que este, ao contrário daquele, visa a purgar de sua obra o lirismo. Bandeira foi o mais lírico dos poetas. Aborda temáticas cotidianas e universais, às vezes com uma abordagem de "poema-piada", lidando com formas e inspiração que a tradição acadêmica considera vulgares. Mesmo assim, conhecedor da Literatura, utilizou-se, em temas cotidianos, de formas colhidas nas tradições clássicas e medievais. Em sua obra de estréia (e de curtíssima tiragem) estão composições poéticas rígidas, sonetos em rimas ricas e métrica perfeita, na mesma linha onde, em seus textos posteriores, encontramos composições como o rondó e trovas.
    É comum encontrar poemas (como o Poética, parte de Libertinagem) que se transformaram em um manifesto da poesia moderna. No entanto, suas origens estão na poesia parnasiana. Foi convidado a participar da Semana de arte moderna de 1922, embora não tenha comparecido, deixou um poema seu (Os Sapos) para ser lido no evento.
    Uma certa melancolia, associada a um sentimento de angústia, permeia sua obra, em que procura uma forma de sentir a alegria de viver. Doente dos pulmões, Bandeira sofria de tuberculose e sabia dos riscos que corria diariamente, e a perspectiva de deixar de existir a qualquer momento é uma constante na sua obra.
    A imagem de bom homem, terno e em parte amistoso que Bandeira aceitou adotar no final de sua vida tende a produzir enganos: sua poesia, longe de ser uma pequena canção terna de melancolia, está inscrita em um drama que conjuga sua história pessoal e o conflito estilístico vivido pelos poetas de sua época. Cinza das Horas apresenta a grande tese: a mágoa, a melancolia, o ressentimento enquadrados pelo estilo mórbido do simbolismo tardio. Carnaval, que virá logo após, abre com o imprevisível: a evocação báquica e, em alguns momentos, satânica do carnaval, mas termina em plena melancolia. Essa hesitação entre o júbilo e a dor articular-se-á nas mais diversas dimensões figurativas. Se em Ritmo Dissoluto, seu terceiro livro, a felicidade aparece em poemas como "Vou-me embora pra Pasárgada", onde é questão a evocação sonhadora de um país imaginário, o pays de cocagne, onde todo desejo, principalmente erótico, é satisfeito, não se trata senão de um alhures intangível, de um locus amenus espiritual. Em Bandeira, o objeto de anseio restará envolto em névoas e fora do alcance. Lançando mão do tropo português da “saudade”, poemas como Pasárgada e tantos outros encontram um símile na nostálgica rememoração bandeiriana da infância, da vida de rua, do mundo cotidiano das provincianas cidades brasileiras do início do século. O inapreensível é também o feminino e o erótico. Dividido entre uma idealidade simpática às uniões diáfanas e platônicas e uma carnalidade voluptuosa, Manuel Bandeira é, em muitos de seus poemas, um poeta da culpa. O prazer não se encontra ali na satisfação do desejo, mas na excitação da algolagnia do abandono e da perda. Em Ritmo Dissoluto, o erotismo, tão mórbido nos dois primeiros livros, torna-se anseio maravilhado de dissolução no elemento líquido marítimo, como é o caso de Na Solidão das Noites Úmidas.
    Esse drama silencioso surpreende mesmo em poemas “ternos”, quando inesperadamente encontram-se, como é o caso dos poemas jornalísticos de Libertinagem, comentários mordazes e sorrateiros interrompendo a fluência ingênua de relatos líricos, fazendo revelar todo um universo de sentimentos contraditórios. Com Libertinagem, talvez o mais celebrado dos livros de Bandeira, adotam-se formas modernistas, abandona-se a metrificação tradicional e acolhe-se o verso livre. Em grosso, é um livro menos personalista. Se os grandes temas nostálgicos cedem ao avanço modernista, não é somente porque os sufocam o desfile fulminante de imagens quotidianas e os esquetes celebratórios do modernismo, mas também porque é um princípio motor de sua obra o reencenar a luta dos dois momentos sentimentais da alegria e da tristeza. O cotidiano “brasileiro” aparece ali, realçando o júbilo evocatório, com o pitoresco popular que se assimila, por exemplo em Evocação do Recife, ao tom triste e nostálgico; usa-se o diálogo anedótico para brindar fatos tão sórdidos quanto sua própria doença (Pneumotórax); a forma do esquete, favorável à apreensão imediata do objeto, funde-se, em O Cacto, a um lirismo narrativo que se aperfeiçoará em sua poesia posterior. Tanto em Libertinagem como no restante de sua obra, a adoção da linguagem coloquial nem sempre será coroada de êxito. Em certos meios-tons perde-se a distinção entre o coloquial estilizado e o coloquial natural, como em Pensão Familiar, onde os diminutivos são usados abusivamente. Libertinagem dará o tom de toda a poesia subsequente de Manuel Bandeira. Em Estrela da Manhã, Lira dos Cinquent'anos e outros livros, as experiências da primeira fase darão lugar ao acomodamento do material lírico em formas mais brandas e às vezes mesmo ao retorno a formas tradicionais.

    Oswald de Andrade Erro de Português

    Erro de português

    Quando o português chegou
    Debaixo de uma bruta chuva
    Vestiu o índio
    Que pena!
    Fosse uma manhã de sol
    O índio tinha despido
    O português.

    Oswald de Andrade

    José Oswald de Souza Andrade era de família abastada. Ingressou na Faculdade de Direito do Largo São Francisco (São Paulo) em 1909. (Só se formaria em 1919, quando seria o orador da turma.)
    Publicou seus primeiros trabalhos em "O Pirralho", semanário paulista de crítica e humor, que ele mesmo fundou em 1911.
    Em 1912, viajou para Paris, onde, convivendo com a boemia estudantil, entrou em contato com o
    futurismo e conheceu Kamiá, mãe de Nonê, seu primeiro filho, nascido em 1914.
    De volta a São Paulo, continuou no jornalismo literário. Em 1917, passou a viver com Maria de Lourdes Olzani (a Deise).
    Defendeu a pintora
    Anita Malfatti de uma crítica devastadora de Monteiro Lobato e fundou o jornal "Papel e Tinta". Em seguida, ao lado de Anita, de Mário de Andrade e de outros intelectuais, organizou a Semana de Arte Moderna de 22.
    Pelo espírito irreverente e combativo, nenhum outro escritor do modernismo ficou mais conhecido que Oswald. Sua atuação é considerada fundamental na cultura brasileira da primeira metade do século 20.
    Publicou "Os Condenados" e "Memórias de João Miramar". Em 1924, iniciou o movimento Pau-Brasil, juntando o nacionalismo às idéias estéticas da Semana de 22. Em 1926, casou com a pintora
    Tarsila do Amaral, e os dois se tornaram a dupla mais importante das artes brasileiras (Mário de Andrade os apelidou de "Tarsiwald").
    Oswald escreveu o "Manifesto Antropofágico", em que propôs que o Brasil devorasse a cultura estrangeira e criasse uma cultura revolucionária própria. Assim fariam Mário de Andrade em
    "Macunaíma" (1928) e Raul Bopp em "Cobra Norato" (1931).
    Com a
    crise de 29, Oswald teve as finanças abaladas e sofreu uma reviravolta na vida. Rompeu com Mário, separou-se de Tarsila e casou com a escritora e militante política Patrícia Galvão (a Pagu). Da união nasceria Rudá, seu segundo filho.
    Filiou-se ao PCB após a revolução de 1930 (romperia com o partido em 1945, embora continuasse sendo de esquerda). Em 1931, quando dirigia o jornal "O Homem do Povo", foi várias vezes detido.
    Em 1936, após ter-se separado de Pagu, casou com a poetisa Julieta Bárbara. Em 1944, outro casamento, agora com Maria Antonieta D'Aikmin, com quem permaneceria até o fim da vida.
    Além de poemas, já lançara o romance "Serafim Ponte Grande" (1933) e as peças "O Homem e o Cavalo" (1934) e "O Rei da Vela" (1937).
    Em 1939, na
    Suécia, representou o Brasil num congresso do Pen Club (a entidade internacional que congrega os literatos dos diversos países). Prestou concurso para a cadeira de literatura brasileira na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP com a tese "A Arcádia e a Inconfidência" e, em 1945, obteve o título de livre-docente.
    Oswald morreu aos 64 anos. Sua poesia seria precursora de dois movimentos distintos que marcariam a cultura brasileira na década de 1960: o
    concretismo e o tropicalismo.

    Mário de Andrade

    Mário Raul de Moraes Andrade, (São Paulo, 9 de outubro de 1893 — São Paulo, 25 de fevereiro de 1945) foi um poeta, romancista, crítico de arte, musicólogo da época do movimento modernista no Brasil e produziu um grande impacto na renovação literária e artística do país, participando ativamente da Semana de Arte Moderna de 22, além de se envolver (de 1934 a 37) com a cultura nacional trabalhando como diretor do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo.
    Mário nasceu em São Paulo e construiu praticamente toda a sua vida na metrópole. Na cidade, estudou e também lecionou por muitos anos, desde cedo demonstrando sua paixão pela cidade. Durante seu tempo de vida, Mário criou vínculos fortes com outros nomes do país, se correspondendo frequentemente com grandes artistas brasileiros, dentre quais se destacam Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Fernando Sabino e Augusto Meyer, e veio a falecer em 1945 na mesma cidade em que nasceu, após três décadas de trabalho que desempenhou em estilo vanguarda.
    A importância de Mário de Andrade continua sendo ativamente expressa nos dias atuais, e ainda se fala sobre sua obra seja para estudo ou para a investigação do Brasil: o filósofo Leandro Konder considera que talvez essa atualidade seja resultado pelo destaque que Mário tinha sobre os outros nomes do modernismo, "pela amplitude de sua cultura, pela vastidão dos seus conhecimentos porque tinha uma visão panorâmica abrangente e dispunha de um quadro de referências muito mais rico do que todos os outros."

    ODE AO BRUGUÊS (Mario de Andrade)

    Ode ao burguês

    Eu insulto o burguês! O burguês-níquel
    o burguês-burguês!

    A digestão bem-feita de São Paulo!
    O homem-curva! O homem-nádegas!
    O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
    é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

    Eu insulto as aristocracias cautelosas!
    Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros!
    Que vivem dentro de muros sem pulos,
    e gemem sangue de alguns mil-réis fracos
    para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
    e tocam os "Printemps" com as unhas!

    Eu insulto o burguês-funesto!
    O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
    Fora os que algarismam os amanhãs!
    Olha a vida dos nossos setembros!
    Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
    Mas à chuva dos rosais
    o êxtase fará sempre Sol!

    Morte à gordura!
    Morte às adiposidades cerebrais!
    Morte ao burguês-mensal!
    Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
    Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
    "- Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
    - Um colar... - Conto e quinhentos!!!
    Más nós morremos de fome!"

    Come! Come-te a ti mesmo, oh! gelatina pasma!
    Oh! purée de batatas morais!
    Oh! cabelos nas ventas! Oh! carecas!
    Ódio aos temperamentos regulares!
    Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!
    Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados
    Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
    sempiternamente as mesmices convencionais!
    De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
    Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
    Todos para a Central do meu rancor inebriante!

    Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
    Morte ao burguês de giolhos,
    cheirando religião e que não crê em Deus!
    Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
    Ódio fundamento, sem perdão!

    Fora! Fu! Fora o bom burguês!...

    A Semana de Arte Moderna

    A Semana de Arte Moderna foi patrocinada pelo escol finaceiro e mundano da sociedade paulistana.
    Prestaram-lhe sua cooperação: Paulo Prado, Alfredo Pujol, Oscar Rodrigues Alves, Numa de Oliveira, Alberto Penteado, Rné Thiollier, Ântonio Prado Júnior, José Carlos de Macedos Soares. É interessante assinalar que o correio paulistano, é orgão do PRP, do qual Menotti del Picchia era o redator político, agasalha os "avanguardistas", com o consentimento de Washington Luís, presidente do país.

    Anita Malfatti

    Filha do engenheiro italiano Samuel Malfatti e de Betty Krug, Anita Malfatti nasceu no ano de 1889 , em São Paulo .
    Segunda filha do casal, nasceu com atrofia no braço e na mão direita. Aos três anos de idade foi levada pelos pais a Lucca, na Itália, na esperança de corrigir o defeito congênito. Os resultados do tratamento médico não foram animadores e Anita teve que carregar essa deficiência pelo resto da vida. Voltando ao Brasil, teve a sua disposição Miss Browne, uma governanta inglesa, que a ajudou no desenvolvimento do uso da mão esquerda e no aprendizado da arte e da escrita.
    Iniciou seus estudos em 1897 no Colégio São José de freiras, situado à rua da Glória. Aí foi alfabetizada. Posteriormente passa a estudar na Escola Americana e em seguida no Mackenzie College onde, em 1906, recebe o diploma de normalista.
    "Eu tinha 13 anos, e sofria porque não sabia que rumo tomar na vida. Nada ainda me revelara o fundo da minha sensibilidade[...]Resolvi, então, me submeter a uma estranha experiência: sofrer a sensação absorvente da morte. Achava que uma forte emoção, que me aproximasse violentamente do perigo, me daria a decifração definitiva da minha personalidade. E veja o que fiz. Nossa casa ficava próxima da educada estação da Barra Funda. Um dia saí de casa, amarrei fortemente as minhas tranças de menina, deitei-me debaixo dos dormentes e esperei o trem passar por cima de mim. Foi uma coisa horrível, indescritível. O barulho ensurdecedor, a deslocação de ar, a temperatura asfixiante deram-me uma impressão de delírio e de loucura. E eu via cores, cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar à pintura."Anita Malfatti.

    Lasar Segall

    De família judia, Lasar Segall desde cedo manifestou interesse pelo desenho. Iniciou seus estudos em 1905, quando entrou para a Academia de Desenho de Vilnius, sua cidade natal. No ano seguinte, mudou-se para Berlim, passando a estudar na Academia Imperial de Berlim, durante cinco anos. Mudou-se, a seguir, para Dresden, estudando na Academia de Belas Artes.
    Em fins de 1912, Lasar Segall veio ao Brasil, encontrando-se com seus irmãos, que moravam aqui. Realizou suas primeiras exposições individuais em São Paulo e em Campinas, em 1913. Pela primeira vez o Brasil vinha a conhecer a arte expressionista europeia. Logo regressou à Europa, casando-se, em 1918, com Margarete Quack.
    Fundou, com um grupo de artistas, o movimento "Secessão de Dresden", em 1919, realizando, a seguir, diversas exposições na Europa.
    Segall mudou-se para o Brasil em 1923, dedicando-se, além da pintura, às artes decorativas. Criou a decoração do Baile Futurista, no Automóvel Clube de São Paulo, e os murais para o Pavilhão de Arte Moderna de Olívia Guedes Penteado.
    Já separado de sua primeira esposa, casou-se em 1925 com Jenny Klabin, com quem teve os filhos Maurício (que se casaria nos anos 50 com a atriz Beatriz de Toledo, posteriormente Beatriz Segall) e Oscar. Nessa época, passou a viver com a família em Paris, onde se dedicou também à escultura. Suas obras nessa fase remetem à atmosfera familiar e de intimidade.
    Em 1932, Segall retornou ao Brasil, instalando-se em São Paulo na casa projetada pelo arquiteto Gregori Warchavchik, seu cunhado. Essa casa abriga, atualmente, o Museu Lasar Segall. Nesse mesmo ano foi um dos criadores da SPAM - Sociedade Pró-Arte Moderna na capital paulista.
    Sua produção na década de 1930 incluiu uma série de paisagens de Campos do Jordão e retratos da pintora Lucy Citti Ferreira. Em 1938, Segall realizou os figurinos para o balé "Sonho de uma Noite de Verão", encenado no Teatro Municipal de São Paulo.
    Uma retrospectiva de sua obra no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro, foi realizada em 1943. Nesse mesmo ano, foi publicado um álbum com textos de Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Jorge de Lima.
    Em 1951, Segall realizou uma exposição no Museu de Arte de São Paulo. Três anos depois, criou os figurinos e cenários do balé "O Mandarim Maravilhoso".
    O Museu Nacional de Arte Moderna preparou uma grande retrospectiva de sua obra em 1957, em Paris. Lasar Segall morreu nesse mesmo ano, de problemas cardíacos, em sua casa, aos 66 anos.
    • Realizou a primeira exposição de pintura não-acadêmica em São Paulo. Seus quadros expressionistas foram totalmente ignorados.

    Tarsila do Amaral

    Tarsila do Amaral (Capivari, 1 de setembro de 1886São Paulo, 17 de janeiro de 1973) foi uma pintora e desenhista brasileira e uma das figuras centrais da pintura brasileira e da primeira fase do movimento modernista brasileiro, ao lado de Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugura o movimento antropofágico nas artes plásticas.
    Nascida em 1 de setembro de 1886, na Fazenda São Bernardo, em Capivari, interior de São Paulo, era filha de José Estanislau do Amaral Filho e de Lydia Dias de Aguiar do Amaral, e neta de José Estanislau do Amaral, cognominado “o milionário” em virtude da imensa fortuna acumulada em fazendas do interior paulista.
    Seu pai herdou a fortuna e diversas fazendas, onde Tarsila e seus sete irmãos passaram a infância. Desde criança, fazia uso de produtos importados franceses e foi educada conforme o gosto do tempo. Sua primeira mestra, a belga Mlle. Marie van Varemberg d’Egmont, ensinou-lhe a ler, escrever, bordar e falar francês. Sua mãe passava horas ao piano e contando histórias dos romances que lia às crianças. Seu pai recitava versos em francês, retirados dos numerosos volumes de sua biblioteca.
    Estudos em São Paulo e Barcelona, começou a aprender pintura em 1917, com Pedro Alexandrino Borges. Mais tarde, estudou com o alemão George Fischer Elpons. Em 1920, viaja a Paris e frequenta a Academia Julian, onde desenhava nus e modelos vivos intensamente. Também estudou na Academia de Emile Renard.
    Apesar de ter tido contato com as novas tendências e vanguardas, Tarsila somente aderiu às ideias modernistas ao voltar ao Brasil, em 1922. Numa confeitaria paulistana, foi apresentada por Anita Malfatti aos modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Esses novos amigos passaram a frequentar seu atelier, formando o Grupo dos Cinco (Arte Moderna Brasileira)Grupo dos Cinco.
    Em janeiro de 1923, na Europa , Tarsila se uniu a Oswald de Andrade e o casal viajou por Portugal e Espanha. De volta a Paris, estudou com os artistas cubistas: frequentou a Academia de Lhote, conheceu Pablo Picasso e tornou-se amiga do pintor Fernand Léger, visitando a academia desse mestre do cubismo, de quem Tarsila conservou, principalmente, a técnica lisa de pintura e certa influência do modelado legeriano.
    Fases Pau-Brasil e Antropofágica
    Em 1924, em meio à uma viagem de "redescoberta do Brasil" com os modernistas brasileiros e com o poeta franco-suíço Blaise Cendrars, Tarsila iniciou sua fase artística “Pau-Brasil”, dotada de cores e temas acentuadamente tropicais e brasileiros, onde surgem os "bichos nacionais"(mencionados em poema por Carlos Drummond de Andrade), a exuberância da fauna e da flora brasileira, as máquinas, trilhos, símbolos da modernidade urbana.
    Casou-se com Oswald de Andrade em 1926 e, no mesmo ano, realizou sua primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris. Em 1928, Tarsila pinta o Abaporu, cujo nome de origem indígena significa "homem que come carne humana", obra que originou o Movimento Antropofágico, idealizado pelo seu marido.
    A Antropofagia propunha a digestão de influências estrangeiras, como no ritual canibal (em que se devora o inimigo com a crença de poder-se absorver suas qualidades), para que a arte nacional ganhasse uma feição mais brasileira.
    Em julho de 1929, Tarsila expõe suas telas pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, em virtude da quebra da Bolsa de Nova York e da consequente crise econômica, Tarsila e sua família de fazendeiros sentem no bolso os efeitos da crise do café. Ainda em 1929, Oswald de Andrade deixou Tarsila para ficar com a revolucionária Patrícia Galvão.
    Em 1930, Tarsila conseguiu o cargo de conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Deu início à organização do catálogo da coleção do primeiro museu de arte paulista. Porém, com o advento de Getúlio Vargas e com a queda de Júlio Prestes, perdeu o cargo.
    Tarsila do Amaral

    O Surrealismo

    Nas duas primeiras décadas do século XX, os estudos psicanalíticos de Freud e as incertezas políticas criaram um clima favorável para o desenvolvimento de uma arte que criticava a cultura européia e a frágil condição humana diante de um mundo cada vez mais complexo. Surgem movimentos estéticos que interferem de maneira fantasiosa na realidade.
    O surrealismo foi por excelência a corrente artística moderna da representação do irracional e do subconsciente. Suas origens devem ser buscadas no dadaísmo e na pintura metafísica de Giorgio De Chirico.
    Este movimento artístico surge todas às vezes que a imaginação se manifesta livremente, sem o freio do espírito crítico, o que vale é o impulso psíquico. Os surrealistas deixam o mundo real para penetrarem no irreal, pois a emoção mais profunda do ser tem todas as possibilidades de se expressar apenas com a aproximação do fantástico, no ponto onde a razão humana perde o controle.

    A publicação do Manifesto do Surrealismo, assinado por André Breton em outubro de 1924, marcou historicamente o nascimento do movimento. Nele se propunha a restauração dos sentimentos humanos e do
    instinto como ponto de partida para uma nova linguagem artística. Para isso era preciso que o homem tivesse uma visão totalmente introspectiva de si mesmo e encontrasse esse ponto do espírito no qual a realidade interna e externa são percebidas totalmente isentas de contradições.
    A livre associação e a análise dos sonhos, ambos métodos da psicanálise freudiana, transformaram-se nos procedimentos básicos do surrealismo, embora aplicados a seu modo. Por meio do automatismo, ou seja,
    qualquer forma de expressão em que a mente não exercesse nenhum tipo de controle, os surrealistas tentavam
    plasmar, seja por meio de formas abstratas ou figurativas simbólicas, as imagens da realidade mais profunda do
    ser humano: o subconsciente.

    O Surrealismo apresenta relações com o Futurismo e o Dadaísmo. No entanto, se os dadaístas propunham apenas a destruição, os surrealistas pregavam a destruição da sociedade em que viviam e a criação de uma nova, a ser organizada em outras bases. Os surrealistas pretendiam, dessa forma, atingir uma outra realidade, situada no plano do subconsciente e do inconsciente. A fantasia, os estados de tristeza e melancolia exerceram grande atração sobre os surrealistas, e nesse aspecto eles se aproximam dos românticos, embora sejam muito mais radicais.
    Principais artistas:
    • Salvador Dali
    • Joan Miró

    O Dadaísmo

    Formado em 1916 em Zurique por jovens franceses e alemães que, se tivessem permanecido em seus respectivos países, teriam sido convocados para o serviço militar, o Dada foi um movimento de negação. Durante a Primeira Guerra Mundial, artistas de várias nacionalidades, exilados na Suíça, eram contrários ao envolvimento dos seus próprios países na guerra.
    Fundaram um movimento literário para expressar suas decepções em relação a incapacidade da ciências, religião, filosofia que se revelaram pouco eficazes em evitar a destruição da Europa. A palavra Dada foi descoberta acidentalmente por Hugo Ball e por Tzara Tristan num dicionário alemão-francês. Dada é uma palavra francesa que significa na linguagem infantil "cavalo de pau".  Esse nome escolhido não fazia sentido,  assim como a arte que perdera todo o sentido diante da irracionalidade da guerra.
    Sua proposta é que a arte ficasse solta das amarras racionalistas e fosse apenas o resultado do automatismo psíquico, selecionado e combinando elementos por acaso. Sendo a negação total da cultura, o Dadaísmo defende o absurdo, a incoerência, a desordem, o caos. Politicamente , firma-se como um protesto contra uma civilização que não conseguiria evitar a guerra.
    Ready-Made significa confeccionado, pronto. Expressão criada em 1913 pelo artista francês Marcel Duchamp para designar qualquer objeto manufaturado de consumo popular, tratado como objeto de arte por opção do artista.
    O fim do Dada como atividade de grupo ocorreu por volta de 1921. 
    Principais artistas:
    • Marcel Duchamp
    • François Picabia
    • Max Ernest
    • Man Ray

    O Cubismo

    Historicamente o Cubismo originou-se na obra de Cézanne, pois para ele a pintura deveria tratar as formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros. Para Cézanne, a pintura não podia desvincular-se da natureza, tampouco copiava a natureza; de fato, a transformava. Ele dizia: “Mudo a água em vinho, o mundo em pintura”. E era verdade. Em suas telas, a árvore da paisagem ou a fruta da natureza morte não eram a árvore e a fruta que conhecemos – eram pintura. Preservavam-se as referências exteriores que as identificavam como árvore ou fruta, adquiriam outra substância: eram seres do mundo pictórico e não do mundo natural. Por isso, é correto dizer que Cézanne pintava numa zona limite, na fronteira da natureza e da arte.
    Entretanto, os cubistas foram mais longe do que Cézanne. Passaram a representar os objetos com todas as suas partes num mesmo plano. É como se eles estivessem abertos e apresentassem todos os seus lados no plano frontal em relação ao espectador. Na verdade, essa atitude de decompor os objetos não tinha nenhum compromisso de fidelidade com a aparência real das coisas.
    O pintor cubista tenta representar os objetos em três dimensões, numa superfície plana, sob formas geométricas, com o predomínio de linhas retas. Não representa, mas sugere a estrutura dos corpos ou objetos. Representa-os como se movimentassem em torno deles, vendo-os sob todos os ângulos visuais, por cima e por baixo, percebendo todos os planos e volumes.
    Principais características:
    • geometrização das formas e volumes
    • renúncia à perspectiva
    • o claro-escuro perde sua função
    • representação do volume colorido sobre superfícies planas
    • sensação de pintura escultórica
    • cores austeras, do branco ao negro passando pelo cinza, por um ocre apagado ou um castanho suave
    Braque e Picasso, seguindo a lição de Cézanne deram inicio à geometrização dos elementos da paisagem. Braque enviou alguns quadros para o Salão de Outono de 1908, onde Matisse, como membro do júri, os viu e comentou: “Ele despreza as formas, reduz tudo, sítios, figuras e casas, a esquemas geométricos, a cubos”. Essa frase, citada por Louis Vauxcelles, em artigo publicado, dias depois, no Gil Blas, daria o nome ao movimento.
    O cubismo se divide em duas fases:
    Cubismo Analítico - (1909) caracterizado pela desestruturação da obra em todos os seus elementos. Decompondo a obra em partes, o artista registra todos os seus elementos em planos sucessivos e superpostos, procurando a visão total da figura, examinado-a em todos os ângulos no mesmo instante, através da fragmentação dela. Essa fragmentação dos seres foi tão grande, que se tornou impossível o reconhecimento de qualquer figura nas pinturas cubistas. A cor se reduz aos tons de castanho, cinza e bege.
    Cubismo Sintético - (1911) reagindo à excessiva fragmentação dos objetos e à destruição de sua estrutura. Basicamente, essa tendência procurou tornar as figuras novamente reconhecíveis.  Também chamado de Colagem porque introduz letras, palavras, números, pedaços de madeira, vidro, metal e até objetos inteiros nas pinturas. Essa inovação pode ser explicada pela intenção dos artistas em criar efeitos plásticos e de ultrapassar os limites das sensações visuais que a pintura sugere, despertando também no observador as sensações táteis.

    Principais Artistas: